segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Trem das Águas



“Olha em redor: a poucos passos dele formou-se uma pequena multidão que está observando seus movimentos como as convulsões de um demente.”
(Palomar contempla o céu – Italo Calvino)


Nadar e ser um trem ao mesmo tempo, deslizar nas águas, cruzar o país como se fosse uma locomotiva, de braçada em braçada, deslizar águas, trilhos e o coração bater tão rápido enquanto o vento singra as águas do tempo, da vida. O Tempo para se viver mais do que tem para continuar a subir em trens do mundo, de poder nadar sem saber o tempo de parar, sem ter estação para descer, o tempo de morrer é não poder mais ter o som das águas, o sibilo da locomotiva humana, do sinal no céu da luz que brilha, da estrela que ilumina a dor dos olhos que envelhecem de tanto ver o fim que não termina e os braços a continuar, avançar o corpo para o outro lado do mundo, de fugir da miséria dos homens, de buscar o som inaudito dos trilhos, do apito de um trem, do barulho do mar, do rio que silencia enquanto se atravessa a fronteira a nado para contrabandear o vento do outro país, para viver o tempo dos outros e buscar dentro de si o som das águas que vibram nos trilhos úmidos da chuva. 

domingo, 13 de agosto de 2017

Mundo

                              Hebert Maeder, 1952.

“A compreensão significa o projetar-se em cada possibilidade de ser-no-mundo [...] existir como essa possibilidade.”
Martin Heidegger

O mundo é velho, vejo a foto, vejo a vida,
O mundo não passa da minha memória, ele se perde.
O mundo é uma árvore que virou pedra, o mundo é mais velho que minha dor.
O mundo circula a Terra, a velhice é o mundo, meu capuz é velho, tão velho que minha amada foi embora para outro mundo.
O mundo é o tempo que levo até meu trabalho, o lugar que invento mundos, que envelheço com minha dor e procuro fugir deste mundo naufragado, meu país é novo. Sou velho demais para o meu País.
Pudesse eu, se quisesse, te daria um mundo, o melhor dos mundos.
Não posso comprar nada, nem tudo nem nada, te devolvo os sonhos.
Vou dar a volta ao mundo, circular é a fonte de vida, quando menos se espera tem uma nascente.



Domingo

                                                    Nikolai CHERNYSHEV.On the Way. 1939.



"Just a perfect day
drink sangria in the park
And then later when it gets dark
we go home"
Lou Reed

Todos os dias da semana perfazem os dias todos de uma vida, toda vida é o resultado de um só dia que estende-se ao tempo. O dia em minha cabeça, começou num domingo. Tão logo concebi a importância dos dias foi porque o domingo estava presente na vida, no início toda a expectativa de vida, uma semana dos meus dias que se completava, depois, era o começo para outro sonho e o pior, a realidade iniciava sempre aos domingos. Dia especial espalhados por diversos lugares da Terra, em religiões, em orgias gastronômicas, bebedeiras entre amigos, almoços, corridas pelos parques, em competições entre barcos e na lentidão dos domingos a vida foi tomando seu rumo. No domingo a família está reunida, o pai é o domingo e até o fim do dia os domingos são dos pais: mãe e pai, o alento para o resto da semana.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Sentido


Anda trépido, tripula um Uber, navega o tempo,
O único espaço que existe é a pele que circula o olho,
Um desenho perfeito, escalpe de retina, morte que salva,
A linguagem distorcida, nem roupa nem signo,
A ambiguidade é nossa PAZ. Quem rouba o sonho
é o cérebro.

A voz pode oscilar, o signo vinga a vida. 

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...