Imagem: Luis A. P. Gomes
“A interpretação se funda existencialmente na
compreensão e não vice-versa.”
Martin Heidegger
Estamos num momento histórico do Brasil que precisamos
compreender bem os acontecimentos, pois o ato de interpretar passa pela
compreensão de todos os acontecimentos do cenário político do país e que servem
de prato para os esfomeados que mais regurgitam suas interpretações, ou menos
conseguem compreender o momento histórico devido à fome de interpretar. Não é
só a política. O Brasil não consegue mais se compreender. Está longe de ter a
consciência do que está realmente acontecendo. O velado de verdades
autoritárias surge como explicações para legitimar e consolidar uma ordenação
de ideias irrefutáveis.
Uma boa parte da mídia sabe interpretar aquilo que não
consegue compreender, ou melhor, se tem a capacidade de compreensão se ilude
com suas próprias intenções ideologizadas de compreender o que está diante de
si. Consegue apenas interpretar o que está no fundo das coisas. Se soubesse ver
que o que está na superfície é parte do todo, certamente não se valeria da
linguagem mais rasteira de apontar o caminho ideal, de nomear sua linguagem
como cura e verdade, abdicando o essencial, o que está para sempre ser pensado
e construído a partir da compreensão de um problema, neste caso, de fatos
arrolados na vida política e social do país. A mídia tem esse lado, um lado de
outras partes existentes, de atribuir verdade em suas interpretações, sem mesmo
saber o que está por todos os lados do ato de compreender.
Para Heidegger interpretar não é simplesmente se valer
do conhecimento do que se compreendeu, é, isto sim, preparar as vias possíveis
que estão na base da compreensão. A melhor maneira de compreender, por exemplo,
os acontecimentos, é estar no mundo, no cotidiano, é estar inteirado do melhor
é do pior dos mundos, mas, simplesmente estar em consonância com o “mundo da
vida”. Os exemplos de interpretar os acontecimentos podem passar por princípios
filosóficos que diferem da tradição hermenêutica lançada sob os olhos do século
XX, mas que ainda hoje não desabitou o pensar sobre o mundo.
Parte I - continua