domingo, 30 de dezembro de 2012

Caminhar em tua blusa

                                                        Art Shay. Simone de Beauvoir. Chicago. 1952.





Nunca pedi para que amasses, quis o teu amor.
A vida não dá trégua aos que amam, aos amantes, aí é pior:
            A vida arranca os olhos,
            uma serpente vê mais que o amor,
            o veneno é fichinha perto da dor.
A sorte dos alucinados é que:
não há a dor nos olhos,
ela já está dentro em sua linguagem,
não existe mais como interpretar,
o caminhar desse jeito é
A canção que diz tudo.
As tuas pernas andam a zanzar à Terra desde
   – Todos os homens são mortais, Simone é a bendita culpada.
     
A mortalidade é uma questão de credo
E tu és o Nada – a blusa do budista – em frente à vida.
E todos os que morrem na cruz para salvar a pele,
os que matam por uma salvação,
nos prometem o impalpável.
Então, és uma mulher de todos os séculos!
Pena que os deuses não souberam disso

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Caminhar à deriva

                                                                    Guilherme Monteiro
                                                                       

O tempo não mudou, o que mudou foi a prioridade"
Mario Sergio Cortella


As pessoas escravizadas pelo conceito do trabalho limitam-se à prática da vida e não praticar a vida no seu uso mais ordinário, a de viver na busca de tudo e de nada, o de simplesmente viver o instante em cada investigação de sua subjetividade. Depois, o mais adiante é o que está em frente a si mesmo, o prático da vida. Ter essa força interna faz com que lidamos melhor a vida, é como saber ouvir o som das coisas, como saber compreender o sentido da linguagem que sai dos sons, saber flutuar nas cores existentes na palheta do pintor.
Sim, é preciso termos mais tempo no nosso tempo de pensar sem o pensamento prático, buscar um pouco mais o ato de indagar, o investigar é a esperteza que só aprendemos com a vida, com aqueles que souberam viver bem esse tempo. Aí, a importância de um dia termos andado de mãos dadas com os pais, com a nossa mãe pelas ruas da cidade escura. A noite é o silêncio que nos leva ao ato de ir ao tempo na busca da compreensão infinita das coisas, é a descoberta de que somos donos das cores do sonho. A arte é minha, o sonho é meu, enfim, aboli a filosofia prática.
                               Odilon Redon 



Passagens

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