sábado, 29 de maio de 2010

O homem possível


Vito Finocchiaro



"O que chamamos de realidade é uma utopia." Maurice Blanchot


Blanchot chamaria isso de “a paixão da indiferença” a obra de uma imensidão inacabada, vinda de Robert Musil. Ele fala do Musil que não teve o reconhecimento devido no seu tempo, de não ter sido acolhido como um inovador, nem como uma grande obra, ou melhor, o que não foi acolhido e poderia ter sido. O esquecimento ligeiro, como se fosse um instante do tempo que se perdeu. Depois, mais tarde, a mesma obra apareceu, ressurgiu na mesma cultura, no mesmo local, país, na França. Um deles, um dos porta-vozes que criaram na mesma cultura, que um dia ajudou-os a esquecerem, lá veio com essa, que se estava moldado para se desligar dos legados, como se revirassem uma estante, um quarto, uma casa atrás da grande obra. Remexeram em bibliotecas, livrarias, e depois disso tudo, vieram dizendo:
— olhe, aqui temos uma grande obra, um clássico para ser catalogado na modernidade.

Eles, entre outros, não souberam reconhecer o momento certo. Acabaram morrendo, sem antes disso, de entregar o texto de Musil a uma nomenclatura acadêmica. Depois todo mundo acabou lendo e conhecendo Musil, mesmo que tardiamente, sem os atrativos de um clássico. Ainda bem.
Melhor, então, um dia, um deles, o mais expoente deles, um dia resolveu dizer:
— o que se lê aqui, já se leu um dia, se execrou e foi e será um erro APENAS apontar como sendo algo maior com o que justamente se nomeou.

Um leve erro de leitura, de reconhecer na escritura o que se conseguiu ler nas linhas, o tempo era o caminho perdido da letra impressa. Lá, entre uma grande forma, a linguagem serpenteou o tempo e trouxe o signo nas ideias fracionadas, enquanto a modernidade dava sempre adeus ao Ser criado. O romance não foi inventado. A paixão da indiferença é uma destruição pelo início, o começo de um compreender de uma época, e depois de atravessar a atonalidade em cordas. Enfim, o exílio de sons continuou até o tempo das incertezas.
Hoje lendo Musil pelos olhos e dedos de Blanchot, o tempo que vivemos é melhor dos que as certezas e promessas do século XX. Aqui estamos. Lá morremos como a matéria substancial da linguagem que invadiu o pensamento em nome tempo da paixão indiferente.



"Homem dífícil, capaz de criticar que ama e de se sentir próximo do que recusa; por muitos aspectos, um homem moderno que acolhe a nova era tal como ela é e prevê lucidamente o que ela se tornará, homem de saber, de ciência, espírito exato e nada disposto a maldizer as temíveis transformações da técnica; mas ao mesmo tempo, por sua origem, sua educação e a certeza das tradições, um homem de outrora, de uma cultura." p. 199

domingo, 23 de maio de 2010

Avata. O Futuro do Cinema e a Ecologia das Imagens Digitais


Capa: Eduardo Miotto
Autores: Erick Felinto e Ivana Bentes

"O que poderia ser mais capitalista que comer um Big Mac enquanto se assiste aos enlevos ecológicos de Sully com a bela flora e fauna de Pandora? Mas, se até mesmo o presidente da Bolívia, Evo Morales, considera o filme bom modelo para a luta contra o capitalismo e a preservação da natureza, por que deveríamos repreender tais interpretações de Avatar?" p. 24

Erick Felinto


"Na cosmologia dos Na'vi, Pandora pode ser entendida pela hipótese de Gaia, e o filme leva essa ideia às últimas consequências, com personagens (a cientista
Grace Augustine e, mais radicalmente Jake Sully) que são convertidos e transmutados até se integrarem como parte desse todo aberto e inteligente que é Gaia/Pandora." p. 75

Ivana Bentes

Passagens

        Brassaï - Pont Neuf, Paris (1949)     “ As ruas são a morado do coletivo.” Walter Benjamin “Na praia, o homem, com os braços cru...